O Juramento - Vinte e Cinco

Mas a ideia de ver Harry e Matthew hoje, estava me deixando ansiosa e tensa. "


- Tenho mesmo que ir ? - Perguntei, caindo de costas na cama.
Alec se deitou ao meu lado, apoiando a cabeça na mão.
- Por que não quer ir, princesa ?
Ele parecia ansioso. Seus olhos estudaram minha expressão. Ele esperava que eu fosse soltar algum segredo.
Menti:
- Talvez porque o cara me me sequestrou vai estar lá, a festa vai estar cheia de vampiros rebeldes, e eu vou ser a única humana.
Ele abriu um sorriso astuto.
- Ou talvez porque aquele Harry vai estar lá. - Adivinhou.
Ele estava certo. Tinha medo deste momento. Meu coração se apertava só pela ideia de ter ele tão perto, mas não poder tê-lo.
Levei a mão ao rosto e choraminguei:
- Eu não quero ir.
Ele tirou minha mão.
- Você tem que ir. Se ele for assim tão ruim para você não querer ir a festa, nem vai te olhar.

 O resto da tarde passei na cama, olhando o teto e imaginando como seria à noite, fazendo planos. Nem sei para quê. Eles nunca saem como eu quero. Alec ficou comigo, me distraindo, falando besteira. Sabia o quanto estava nervosa. Talvez não tivesse coisa melhor para fazer. Até conseguiu me fazer rir algumas vezes. Mas a maior parte do tempo era irritante. Só me restava suportá-lo, já que não tinha celular, televisão ou computador. Tudo fora confiscado. Só me trouxeram algumas roupas.
Alec olhou pela janela.
- Já está escurecendo. É melhor você ir se trocar. - Falou, se levantando e me puxando junto.
- Que roupa devo usar ?
- Acredito que já entregaram a encomenda no meu quarto.
 Ele foi buscar e em alguns segundos estava de volta, com uma caixa vermelha na mão. Ele me entregou e a abri, tirando um vestido de dentro. O estiquei na minha frente, avaliando: A saia era preta de um tecido liso; a parte da frente era menor, um pouco acima do joelho; A parte de trás da saia era mais comprida, indo até os pés em uma espécie de calda; Na parte de cima, tudo era de renda preta que ficavam intercaladas, deixando alguns trechos de pele á mostra; Na parte das costas, o tecido era do mesmo tom da minha pele e liso, parecendo que as costas estavam nuas; em um dos ombros a renda subia formando uma alça que não se completava. Era lindo. Tirei os sapatos: Simples e pretos, de salto com dois dedos de meia pata.
Fui me trocar no banheiro, enquanto Alec esperava - já pronto no quarto. Vesti a roupa, que parecia ser feita exatamente para o meu corpo. Só passei rímel e um brilho labial. Borrifei perfume e um ativador de cachos, que deixei cair em um ombro para mostrar as costas. Me peguei pensando se Harry iria gostar. Ali estava eu, preocupada com ele. Sabendo que, aonde quer que ele estivesse, não estaria preocupado comigo.
Saí do banheiro e Alec estava sentado na cama. Me lembrei da vez que saí do closet, para ir a uma festa, e Harry estava sentado na cama, quando me viu levantou e me olhou com admiração e ternura.
Alec me guiou pelos corredores longos e sombrios, até chegarmos a uma escada. Um homem de meia idade e de terno, olhou para ele e acenou com a cabeça; depois me olhou com desprezo. Fiquei intrigada. 
Alec enganchou meu braço no dele e começamos a descer as escadas.
- Pronta ? - Perguntou.
- Pronta.
Não resisti a tentação e perguntei:
- Por que aquele homem não gosta de mim ?
- Vamos dizer assim, princesa ... Ninguém aqui gosta de você. Ninguém. Não é muito legal ter a princesa que pertence a família que expulsou e deixou apodrecendo seu reino, convivendo conosco. Além do mais, você é uma mera humana.
- E você não vê problema de estar do lado de uma mera humana ?
- Eu não me envergonho de estar ao seu lado. - Olhei para ele surpresa, que estava com um sorriso de canto nos lábios. Fiquei na dúvida se ele tinha mesmo me dado uma cantada.
Chegamos ao fim da escada, que dava para o jardim. A festa sendo banhada pela luz da lua; o gramado ainda estava com um pouco de neve da noite passada; um pouco de névoa cobria os pés; havia um chafariz de cada lado do jardim; em volta tinha árvores secas e sem folhas com bancos de madeira brancos em baixo; os muros guardados por guardas; no fundo, onde se podia enxergar toda a festa, havia uma grande mesa de madeira com uma única cadeira, que estava vazia; atrás da mesa estalava o fogo da fogueira; a música era sensual e sombria, assim como os vampiros.
Encontrei o olhar de Harry em meio aos outros. Meu coração se acelerou. Ele deu um passo para frente mas parou, pensando melhor. Percebi que ele não olhava para mim e sim para Alec. 

A festa continuou pela noite. Tive de lidar com olhares de desprezo e sussurros a meu respeito. Matthew ainda não se apresentara e Harry se mantinha a distância. O que me restava era ficar em um canto com Alec.
- Estou cansada de ficar aqui. - Reclamei.
- Você que escolheu ficar aqui. - Disse, e bebeu mais um gole de sangue da taça.
- Queria que eu ficasse mais aonde ? Ninguém aqui gosta de mim, e só tenho você. O mínimo que pode fazer é me acompanhar.
- Então, vamos pelo menos dançar. 
Ergui uma sobrancelha.
Ele levantou o braço e o deixou cair para o lado.
- Qual é ! Melhor do que ficar aqui parado a noite inteira. E você vai estar comigo. 
- Tá bom .
Ele pegou minha mão e me guiou até onde estava algumas pessoas dançando. Alec tinha acabado de colocar a mão na minha cintura e meu olhar se voltou para o fundo da festa. Vi Harry dançando com uma garota, uma bem familiar: Tracy. Fechei os olhos com força, esperando que quando os abrisse tudo fosse um engano. Mas quando os abri, eles ainda estavam lá. Meu coração começou a bater forte e minhas mãos estavam suando. Não estava acreditando no que via.
Alec percebeu meu nervosismo. Não percebi que ele estava me conduzindo na dança, e relaxei a mão que estava apertando em seu ombro.
- Você está bem ? - Ele perguntou, examinando meu rosto.
- Não, nada bem.
Ergui o olhar para encará-lo.
- Harry trouxe a Tracy ? 
- Você já viu.
- Como assim ? Você já sabia ? - Perguntei, incrédula.
- Não sabia como te falar.
Me soltei dele.
- Como ele pode trazer Tracy para cá ? O que ele disse para ela ? - Minha voz estava se elevando. 
- Namorados levam as namoradas para viajar. Ela não sabe que aqui é um castelo cheio de vampiros malvados. Pensa que só veio visitar. - E deu de ombros.
Foi como se tivesse levado um soco no estômago. Senti as lágrimas chegando e não iria chorara na frente de todos. Não percebi que tinha começado a andar de um lado para o outro, até sentir as unhas entrando na pele, me trazendo de volta.
- Preciso sair daqui. - Disse.
Comecei a sair em direção ao corredor que adentrava o castelo. Alec veio correndo atrás de mim. Assim que entrei no corredor Alec começou a me chamar de volta.
- Princesa, volta para a festa.
- Não.
- Volta, princesa.
- Já disse que não.
Ele correu e parou na minha frente, impedindo minha passagem. Abaixou os ombros, pegou minhas pernas e me jogou nos ombros.
- Então, eu faço você voltar.
- Alec, me solta agora. 
Comecei a espernear e gritar com ele. Qualquer coisa para me soltar. 
- Por que tenho que estar nessa festa ? - Esbravejei.
- Você não pode ficar fugindo assim.
Ele me soltou, e quando abri a boca para protestar ele me empurrou de encontro a parede e tapou minha boca com a mão.
- Você sabe que ele está logo ali, fingindo que não nos ouve ?
- Atrapalho ? 
Olhamos na direção que veio a voz masculina. Harry estava parado na frente do corredor, com a mão no bolso.
Alec me soltou devagar, tirando a mão da minha boca.
- Sim. Muito. - Esbravejei. Não contendo minha raiva.
- Ele chegou ? - Alec perguntou.
Harry assentiu. Alec pegou minha mão e me levou ao início do corredor, de encontro a Harry. 
- Fique com ela. - Disse Alec, entregando minha mão a Harry.
- O quê ? - Perguntei, puxando a mão. 
Alec já estava saindo.
O clima ficou tenso.
- Quer dançar ? - Harry perguntou.
- Não.
- Prefere que eu te jogue nos ombros e te leve até lá ? - Debochou, abrindo um sorriso.
- Você é um idiota.  
- Vou encarar como um " sim ".
Abaixou os ombros e agarrou minhas pernas. Tentei me afastar, mas ele foi mais rápido e me jogou no ombro. Seguiu de volta para a festa. Tinha cansado de espernear. 
- Você não é nem um pouco original.
Ele nos levou até um canto mais afastado da multidão e me soltou. Passou os braços pela minha cintura, em um tipo de braço. Me apertou para junto de si, acabando com qualquer espaço entre nós.
Não consegui encarar seu olhar e virei o rosto. Minhas mãos estavam apoiadas em seu peitoral, agarrando sua camisa preta. Ele encostou sua bochecha na minha, sentia sua respiração nos meus cabelos, sua boca bem perto do meu ouvido. Mordi o lábio, tentando não estremecer. Até que senti seus lábios no meu pescoço. 
Me afastei dele, mas ele continuou me segurando.
- Harry, me solta. Você não me faz bem e sabe disso. Me solta.
Ouvi ele soltando um suspiro. 
Alec chegou por trás de mim e envolveu meus ombros, me afastando de Harry.
- Pode ir, agora.  - Ele disse, quando Harry o encarou.
Harry me olhou uma última vez e saiu pisando duro.
- Obrigada. - Falei para Alec.
Alec não olhou para mim. Olhou para o centro do jardim, onde as pessoas estavam abrindo um círculo.
- Ele chegou.
Ele pegou minha mão e me guiou até lá. Eu queria ter ido na direção oposta, temendo o que me esperava.
Lá no meio de todos, estava Matthew, segurando uma garrafa de sangue. Todos fizeram uma reverência, menos eu. E ele me viu. Logo em seguida, seguiu para a grande mesa de madeira. Alec pegou minha mão e me levou até lá, depois me deixou sozinha. Matthew colocou os pés em cima da mesa, e ficou balançando a garrafa com sangue.
- Boa noite, princesa. - Seu tom era arrogante e prepotente. Ele estava em seu domínio e e tentou transparecer isso na voz.
- O que você quer comigo ? - Meu tom não era do mais doce.
- Não vamos jogar as cartas na mesa logo cedo. Aproveite a festa primeiro.
- Você sabe que eu nem queria estar aqui.
- Você iria ceder e acabar vindo. Só adiantei as coisas.
- Os Petrova sabem que estou aqui ?
Ele ergueu uma sobrancelha.
- Ninguém vai vir te salvar no cavalo branco, princesa. O único príncipe que tinha, está com outra. - E apontou para Tracy, que estava dançando com Harry.
Se ele tentou me atingir, deu errado. Não transpareci nenhuma emoção.
Ele franziu o cenho.
- Qual a importância que eu tenho aqui ? - Perguntei.
- Só faça que nem todos, aproveite. - E deu um sorriso arrogante.
Ele subiu na mesa e gritou para todos:
- O jantar será servido.
Todos assobiaram, gritaram e bateram palmas.
Três homens atravessaram a festa, trazendo três mulheres humanas. 
Ainda em cima da mesa, Matthew gritou :
- Por que sangue velho, se temos sangue fresco na festa ? 
Com uma das mãos, ele estilhaçou a garrafa. Pulou da mesa e foi até as mulheres. Pegou uma delas - que estava aterrorizada - pelos ombros, e mordeu com violência seu pescoço. Assim que secou-a, se virou lentamente e passou a língua nos lábios sangrentos.
Ergueu a voz e disse:
- Sirvam-se.
Olhei em volta e vários vampiros que estavam dançando pararam e morderam sua companheiras - que pensei ser vampiras também, mas eram só o jantar.
Olhei perplexa para Matthew.
- Te espero na próxima festa, princesa.
Olhei por cima de seu ombro: Harry pegou Tracy pela mão e a levou para dentro, protegendo-a, antes que ela visse o que estava acontecendo.
Corri pelos corredores, tentando achar meu quarto. Encontrei o quarto, entrei e fechei a porta com força. Me arrastei até a cama e agarrei o travesseiro. As lágrimas que estava segurando, correram queimando pela minha bochecha. Correndo descontroladamente. Sentei na beirada da cama e tirei os sapatos. Senti uma brisa gelada nas costas. Me virei e Harry estava deitado na cama. Olhei para a janela que estava aberta.
- Esse lugar todo para nós, como antigamente. - Ele disse, com a voz baixa e rouca.
- Sim. Antigamente. 
Nem me preocupei em limpar as lágrimas, pois estavam caindo cada vez mais.
- Vim ver se você estava bem.
Percebi que ele estava sempre encontrando motivos para ficar perto, tocar. Mas não vou ceder a ele de novo e me machucar mais.
- Ver se estou bem ? Você é cego ou está se fazendo de idiota ? - Perguntei com um tom cínico.
Levantei e comecei a andar de um lado para o outro, tentando me acalmar. Como ele não respondeu, respirei fundo e continuei.
- Por que você não vai embora ?
- Fiquei apegado.
- Pare de me provocar.
- É isso mesmo o que você quer ?
Nem eu acreditava em mim mesma. Mas precisava. Para o meu bem.
Sentei de novo na beirada da cama e sem olhar para trás disse.
- Você está me deixando nervosa.
Ele apareceu na minha frente. Tive de me apoiar nos cotovelos por causa da proximidade. Ele colocou uma mão de cada lado do meu corpo, acabando com ela.
- Você fica mais nervosa quando eu faço isso, - E beijou meu maxilar - ou isso ? - E beijou meu pescoço.
Antes que chegasse a minha boca, o empurrei e me levantei. Mordi o lábio tão forte que senti o gosto de sangue, me trazendo de volta.
Harry me puxou pela mão, fazendo-me cair em cima dele. Me beijou. Um beijo selvagem e profundo. Beijava-me como se estivesse se sufocando e eu fosse o ar que precisava. Sua mão apertava com força minha cintura. No começo, hesitei, mas depois deixei me levar pelo desejo. Fui a primeira a se afastar.
- Eu te avisei para não morder o lábio. - Disse, entre meus lábios.
Levantei e abri a porta. Ele assentiu e foi saindo, mas não antes de me selar uma última vez. 
Com os olhos fechados disse:
- Você precisa parar de fazer isso.
Abri os olhos e ele estava me encarando. Seu olhar me dizia que ele entendia o que eu estava passando.

Assim que ele saiu, me arrastei até a cama. Tentei dormir, mas as primeiras horas foram apenas lágrimas.
Estava brava, furiosa. Por Harry estar com Tracy e continuar me provocando, beijando-me; por depois de tudo o que aconteceu ele dizer que nada foi real e significativo, e me abandonar; Com mais raiva ainda por não conseguir resistir e ainda gostar dele; por querer seu toque, querer seu beijo. Eu queria odiá-lo por tudo o que fez, mas parecia algo impossível. Desde o começo soube que ele seria um problema. Furiosa com Matthew, por ele ter dito para confiar nele e depois me trazer para esse castelo á força. Eu acreditei em todos, e todos me traíram. Era devastador. Fui traída. Queria que tudo em mim congelasse. Meu coração andava mais gelado que o inverno.
Por fim, as lágrimas cessaram e o sono me acalmou.

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