O Juramento - Capítulo Vinte

" Me jogaram no banco e amarraram minhas pernas e mãos. "


 A van sacolejava no caminho. Por um tempo permanecemos na estrada, com ela em boas condições. Depois, fomos para uma estrada de terra, com o carro pulando e balançando na estrada irregular e com buracos. Percebi pelas vozes que no carro tinha o motorista - um homem - , uma mulher na parte da frente, pela voz mais abafada, e mais dois homens atrás, comigo. Eles riam e conversavam uns com os outros, como se não tivessem acabado de sequestrar alguém. Me perguntei quem seria, e por quê ? O único argumento que tinha: este era um sequestro " normal " , souberam do valor que tinha sendo princesa e só queriam um resgate. Então, estaria sendo executado por vampiros ou um mandante vampiro, para poderem saber do meu valor.
O carro foi parando e ouvi a porta se abrir. As vozes foram se afastando do carro e me puxaram pelo pé. Logo, um dos homens me pegou no colo. Não foram muitos passos até outra porta ser aberta. Andamos mais um pouco e mais uma porta sendo aberta. Mas era uma porta mais forte e pesada, provavelmente feita de ferro ou algum material parecido. A porta foi fechada com um barulho alto. Outra porta aberta e desta vez me sentaram em uma cadeira. Tiraram o capuz da minha cabeça. Meus olhos doeram com a luz da lâmpada, mas logo se ajustaram. 
Estava em um quarto muito pequeno e todo cinza chumbo. Um lâmpada com os fios aparecendo pendia do teto. No quarto inteiro avistei somente uma cama de ferro velha e de solteiro em um canto. Somente uma porta de saída. 
 Na minha frente, um garoto estava agachado. Não daria mais de 19 anos. Cabelos castanho claro em um topete de lado , olhos acinzentados, pele pálida, rosto anguloso. Ficou me observando com olhos curiosos. Estava tensa e ansiosa. Meu corpo todo doía. As cordas que estavam amarradas nos meus tornozelos e pulsos, atrás da cadeira, machucavam.
- Onde estou ? - Perguntei ao garoto.
Ele sorriu.
- Então a princesa fala. Vai ter que ficar aqui por um tempinho.
- Quem é você ?
- Me nome é Jace, mas pode me chamar de amor se preferir. - E sorriu de lado.
- O que estou fazendo aqui ?
- Só recebi ordens para trazê-la até aqui.
- O que vocês querem ?
- Só sei que você é valiosa. Por isso, tenho mais três amigos lá em cima. Então, não tente nenhuma gracinha. Vou ficar aqui com você.
- Essas amarras me machucam. - Disse, mexendo as pernas para enfatizar.
Ele me observou sério por um tempo, tentando descobrir se estava planejando algo.
- Fique na cama.
Ele soltou as amarras e me segurou pelo cotovelo com força. Me levou até a cama e sentou com força.
- Agora, fique aqui sentada e quietinha. Vou estar te observando. - Disse, abaixando e colocando seu rosto perto do meu, falando devagar como se fosse uma criança recebendo orientação. - Se tentar qualquer coisa, eu te mato.
Ele foi até ao lado da porta e levou a cadeira consigo. Se sentou e tirou um celular do bolço e ficou mexendo, balançando- se na cadeira.
O colchão era velho, fino e sujo. Cheio de manchas e buracos. Fedia a mofo. Fiquei com nojo e me sentei na beirada, encostando-me na cabeceira de ferro. 

Depois de uma hora de tensão e ansiedade, Jace dormiu. Percebi que a porta estava destrancada e não ouvira ninguém do lado de fora ou por perto. Pensei nas chances que tinha: Se conseguir alcançar a porta sem fazer barulho e sair, talvez não tivesse ninguém do lado de fora e pudesse achar uma saída alternativa e encontrar ajuda. Se fosse pega, Jace poderia me machucar ou matar. Ele dissera que sou valiosa, então, poderia estar blefando. Talvez só me machucasse. Não mataria alguém valioso. E pelo que intendi ele só recebeu ordens.
Levantei da cama com cuidado, me esforçando para não fazer a cama ranger ou eu gemer de dor. Levantei e minha cabeça girou. Ainda latejava da pancada. Consegui me equilibrar e tirei os sapatos. Fui na ponta dos pés até a porta. Ao chegar, olhei para Jace uma última vez. Girei a maçaneta com cuidado. Abri uma fresta e olhei para o corredor: vazio. Coloquei o pé para fora. Me puxaram pela cintura. Tão forte que chegou a doer. Fui empurrada até a parede. Quando percebi, Jace já estava em cima de mim. Me segurou pelo pescoço e levantou-me. Me pressionando contra a parede. Meus pés já não estavam mais tocando o chão. Era muito difícil de respirar, e ele apertava cada vez mais. Sua expressão transbordava raiva. Ele me fitava, olhando-me no fundo dos olhos. Via nos seus olhos ele planejando o melhor jeito de me matar.
- Agora você vai me matar ? - Perguntei. 
Ele deixou que meus pés tocassem o chão. Aproximou seu rosto. Senti seu hálito gelado no meu pescoço. Seu corpo estava tenso.
- Eu queria muito. - Se fosse em outra situação, veria o gesto como algo provocante. Senti que ele estava se segurando. Comprimindo a raiva. Ele afrouxou a mão no meu pescoço e levou até minha nuca. Segurou meu cabelo com força e me levou até a cama. 
- Ora, ora. Brincando com nossa bonequinha, Jace ? - Disse uma voz feminina no corredor, assim que Jace me jogou com força na cama.
- Isabel. - Ele disse, se virando na direção da porta.
- Qual o problema com a boneca ? - Isabel perguntou, encostando no batente da porta.
Seus cabelos eram bem vermelhos e os olhos castanhos. Vestida com uma calça jeans clara e uma regata apertada branca.
- Só resolveu dar uma de espertinha.
Ela entrou no quarto. Seu andar era calmo e confiante. Seus olhos pareciam de um felino pronto para atacar. Ela se aproximou da cama e chegou bem perto de mim. Virou a cabeça para os lados, pensativa enquanto me avaliava da cabeça aos pés. Pegou meu queixo com força e virou meu rosto para os lados. 
- Você não é tão bonita quanto dizem. Não ouviu falar que olhos azuis saíram de moda. E você devia pensar em mudar o corte de cabelo. 
Saiu de cima de mim e se aproximou de Jace.
- O chefe quer ela inteira.
Me sentei na cama, me aproximando, na menção no " chefe ".
- Quem está fazendo isso comigo ? - Perguntei.
- Ela está inteira. - Disse Jace, com um tom de impaciência. Provavelmente, ele queria sair dali tão rápido quanto eu.
- Não por muito tempo se você não se segurar.
- Sou tão confiável quanto você.
- Vocês não vão me responder ? - Perguntei, me aproximando mais.
- Logo ele vai ligar. E isso tudo acaba. Só precisa se segurar por mais alguns minutos. Depois, pode ir acabar com alguma família.
- Quem vai ligar ? Quem é o chefe ? - Perguntei.
Isabel olhou furiosa para mim. Se aproximou e levantou o braço. Me deu um tapa na cara com as costas da mão. Foi tão forte e caí com muita força na cama. Coloquei a mão no local do tapa e senti a pele mais áspera. Deixou marcas. Começou a arder e formigar. A dor no meu corpo se intensificou com a queda brusca. Senti lágrimas se formando. Engoli em seco e respirei fundo. Não iria chorar. Não ali. Não na frente deles, me mostrando fraca. 
- Será que você não consegue calar a boca ?  - Esbravejou Isabel. 
Ouvi Jace rindo. Serrei os punhos. A raiva começou a tomar conta de mim. Sentia ela queimar por dentro. Era difícil me controlar. Não podia fazer nada. Eles acabariam comigo. Tentei me acalmar. Na hora certa, teria a minha vingança.
- Fique aqui com a vadiazinha. - Cuspiu Isabel, e saiu.

Alguns minutos depois Isabel voltou, com um celular. 
- Algum problema ?  - Perguntou Jace, se levantando da cadeira ao notar o celular.
- Ele quer ter certeza de que ela está viva.
Ela deu o celular para Jace segurar e pegou as cordas do chão e a cadeira de Jace. Colocou-a no centro do quarto e mandou eu me sentar nela. Assim que sentei, ela amarrou meus tornozelos e pulsos, como antes. Tirou da parte de trás da calça uma faca. Examinou o objeto e passou de leve o dedo na parte mais afiada, no mínimo toque saiu um pouco de  sangue. Ela sorriu e se voltou para mim. 
Pegou o celular com Jace e começou a falar:
- Você quer uma prova de que ela está viva, né ? ... Ok, te darei uma. Você se lembra bem do preço do resgate ? ... Ótimo. Bem, docinho, aqui vai sua prova.
Ela colocou a lâmina da faca perto dos meus olhos e foi descendo. Mordi o lábio, esperando pela dor. Ela desceu a lâmina pela minha bochecha esquerda. A dor era muita. Queimava e ardia. Soltei gemidos de dor e Isabel aproximou o celular da minha orelha. 
- Serena. Serena, fala comigo. - Reconheci a voz de Harry. Transbordava preocupação.
- Harry ! Harry, me ajuda. Eles estão me machucando. Por favor, me ajuda.
Ele não respondeu, mas ouvi suas exclamações raivosas e sua respiração alterada. Isabel afastou o telefone e começou a falar com Harry.
- Seu bichinho está bem. Quando fizer o que mandamos, a terá de volta. Enquanto isso ...
Ela infincou a faca na minha perna. Gritei com a dor alucinante, queimando e ardendo. A dor se espalhou pela perna inteira. Quando gritei, ela aproximou o celular. Esperando que Harry também ouvisse. Ela riu desligou. 
Ela tirou a faca da minha perna e ouvimos um estrondo na parte de cima. Ela e Jace ficaram alertas. Mais um estrondo e gritos. Um vulto passou correndo na nossa frente e indo para o fundo do quarto. Vi nos olhos de Jace e Isabel o medo e a surpresa.
- Desculpem o atraso, o trânsito estava péssimo. - Ouvi a mesma voz rouca, baixa, ameaçadora e irônica de Harry. Transbordei de alívio. Ele viera me salvar.
Jace correu na direção dele. Não pude ver a briga, pois estava de costas. Só consegui ouvir os urros e batidas fortes. Durou pouco tempo até Harry vir na direção de Isabel. Ela se afastou e jogou a faca no chão. Ela estava em choque e com medo. 
- Não se preocupe. Não mato mulheres. - Disse Harry, entrando no meu campo de visão.
Rapidamente, Harry tirou uma estaca das costas e atirou na direção. Ela ficou enterrada na barriga de Isabel, que caiu para o lado. E ficou se remexendo e gemendo no chão.
- Foi burrice sua machucar ela. 
Ele se virou e nossos olhares se encontraram. Sua expressão foi de alívio, mas logo se tornou preocupado quando me examinou com os olhos e viu meu estado. Já tinha esquecido da dor, só pela felicidade de vê-lo. Ele se aproximou e tirou as amarras.
- Como você me encontrou ? - Perguntei, sem conseguir conter um sorriso, e logo em seguida senti as lágrimas se acumularem.
- Sempre vou te encontrar.

Depois de duas horas, estava na minha cama. Harry tinha descido até a cozinha. Consegui mancar até o espelho para ver o estado. Uma imagem horrível. Minha calça branca estava toda suja de sangue e com um corte, meus pulsos estavam marcados por causa da corda, levantei a blusa e minha barriga tinha um roxo de soco, meu pescoço tinha marcas de dedos, causadas por Jace, na bochecha esquerda tinha um longo corte, do outro lado, a marca do tapa de Isabel. Pelo reflexo do espelho, vi que Harry estava na porta, observando-me. Vendo que eu estava verificando meus machucados, seus olhos marejaram, e percebi que ele tinha olheiras, seu cabelo estava bagunçado e suas roupas estavam sujas e abatidas. Voltei a cama e ele se sentou comigo.
- Tenho uma coisa que pode te ajudar. - Ele disse, demonstrando cansaço na voz. 
Como não disse nada, ele mordeu o próprio pulso e deixou o sangue escorrer para um copo de plástico que tinha trazido. Ele colocou a tampinha no copo e me entregou.
- Ajuda se estiver no copo - Ele disse, me confortando.
Com hesitação, bebi o líquido. Foi nojento, mas preciso. Era espesso e tinha um gosto forte. Azedo. Engasguei um pouco no começo, mas continuei. Terminei de beber e me senti melhor. Harry abriu um pouco mais o buraco na minha perna, verificando o ferimento, que começara a cicatrizar. Senti que os do meus rosto e pescoço também. Já não sentia mais a dor no estômago. Quando levantei a blusa, estava curado. Estava totalmente curada.

Tomei um banho quente e demorado. Esperando que a água pudesse levar todos os acontecimentos do dia consigo para o ralo. Saí do banho e coloquei uma roupa leve. Voltando ao quarto, Harry estava sentado cabisbaixo na minha cama. Deu mais alguns passos em sua direção e ele me olhou nos olhos.
- Precisamos conversar. -Ele disse. E pela sua expressão, tive certeza de que não iria gostar de ouvir.

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