
Capítulo Onze
Vai dormir.
O sol já invadia o quarto, mas ainda era cedo. Ainda no torpor do sono, percebi que estava virada para o outro lado. Olhei para o relógio; 7:23. Senti falta do meu travesseiro, de abraça-lo e apoiar-me nele. Virei-me e joguei meus braços sobre o mesmo. Sentindo a maciez. Meus dedos roçaram o tecido, mas percebi que não era realmente o tecido, e sim, pele quente e macia. Droga ! Passei a mão mais uma vez, e senti os músculos da barriga de Harry. Acordei em um pulo.
- Desculpe. - Disse rapidamente.
Harry ainda estava de costas para mim e de olhos fechados, mas estava acordado.
- Não, tudo bem.
Ele segurou minha mão quando eu estava recuando e deixou-a em sua barriga, colocando a sua mão sobre a minha. E sua respiração voltou a ser pesada e regular. Tive que aproximar-me dele para continuar com o braço no mesmo lugar. Conseguia sentir o cheiro de seu perfume e a maciez de sua pele. Deus ! Ele estava quente e era tão bom. Meu pulso estava acelerado, batendo como nunca antes. O nervosismo tomou-me, dificultando e acelerando minha respiração. Percebi que se não quisesse sucumbir ali mesmo, teria que me afastar. Saí rapidamente da cama, tropeçando no lençol que caiu no chão.
- Algum problema ? - Olhei rapidamente para Harry quando ouvi sua voz. Ele esfregou os olhos, acordando.
- Não, tudo ótimo. Perdi o sono e resolvi levantar. - Tentei deixar o nervosismo fora da voz, mas ainda sim estava falando rápido demais.
Sem esperar qualquer resposta, saí rapidamente para o banheiro.
(...)
- Não vai comer nada ? - Harry perguntou, do outro lado da bancada da cozinha, olhando para minha xícara com café, leite e chantili.
- Só vou tomar isso. - E rodeei a xícara com as palmas das mãos, sentindo o calor aquecendo-as.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido porque a porta se abriu. Não olhei na hora, achando que seria qualquer um que dormisse na cabana. Mas Harry olhou na direção da porta, sorriu e levantou-se. Virei-me a tempo de ver Harry dar um abraço apertado em alguém. Quando eles se soltaram, pude ver melhor quem era: Um garoto alto, somente com alguns centímetros mais baixo que Harry, forte, mas não bombado.
- Cara, pensei que você fosse demorar mais ! - Harry exclamou, com um sorriso enorme espalhando-se pelo rosto.
Pegou a mochila do ombro dele e colocou-a no chão, ao lado da porta.
- Consegui terminar mais cedo, então o Connor me liberou. Qual é ? Não está feliz em me ver ?
- Está ficando emotivo ? - Brincou Harry.
O garoto deu de ombros.
- Senti falta desse lugar. - E passou os olhos pelo lugar. Aproveitei para avaliar o garoto, como de costume. Usava uma camiseta cinza, de gola V, que ficava mais apertada nos bíceps e peitoral; Um jeans caído na cintura e rasgado no joelho; usava botas pretas; os cabelos formavam um topete bagunçado, mas eram mais raspados na nuca e nos lados, de cor de caramelo. Enquanto olhava-o da cabeça aos pés, percebi que ele encarava-me de volta. Que eu não fiquei igual a um pimentão agora !.
- E quem é a lindinha ? - Perguntou a Harry, mas sem desfazer o contato visual.
Harry abriu a boca para falar, mas adiantei-me.
- Meu nome não é " lindinha ", e sim, Alice. - Disse, tentando não soar ríspida, mas sem sucesso. Só nunca gostei de ser chamada de " Coisinha ", " Fulana ", " Garota " ou até mesmo " Lindinha ", não por alguém com quem não tenha intimidade.
Ele estendeu a mão e apertei-a.
- E ainda é bravinha. - E sorriu.
Puxou-me pela mão para um abraço. Fiquei surpresa, sem saber se retribuía ou não.
- E eu gosto disso. - Falou em meu ouvido.
Ouvi Harry pigarrear e afastei-me dele.
- Sou Scott. - Ele deu um sorriso caloroso. E do modo como estava perto, pude ver que seus olhos eram dourados, combinando com o cabelo. Também tinha um piercing prateado nos lábios. Admito que ficou sexy. Ele e Harry deviam ser uma dupla e tanto, fazendo as meninas molharem as calcinhas.
Harry entrou na frente de Scott, que levantou os braços e afastou-se. Ele ignorou-o e voltou sua atenção para mim.
- Er ... Anjo, tem uma pessoa querendo conversar com você. Lembra que eu disse que alguém tinha informações sobre o seu caso e que brevemente te veria ? - Assenti - Então, chegou a hora.
Scott riu e intrometeu-se:
- Ah ! Que fofo, " Anjo " ? - Perguntou, com certo desdém na voz.
- É o apelido que Harry me deu. Algum problema ? - Defendi Harry.
Scott levantou os braços, como um sinal de paz, porém continuava com um sorriso no rosto. Mas eu percebi que Harry estava levemente ruborizado e havia certa tensão em seus ombros. A linha do maxilar estava firme e dura.
Todos fomos andando até o escritório do acampamento.
Assim que Scott ficou um pouco mais à frente, cochichei no ouvido de Harry:
- Eu adorei o apelido.
Sua expressão se suavizou e ele olhou-me docemente, enquanto sorria. As mãos que estavam em punhos abriram-se quando ele passou o braço pelos meus ombros. Scott diminuiu o passo para ficar do outro lado meu. Sentia que ele olhava-me de soslaio. Era intensa e estranha a maneira como ele me olhava. Harry também percebeu e sua mão livre fechou-se em um punho firme outra vez.
(...)
Assim que chegamos em frente ao escritório, Scott preferiu despedir-se.
- Vejo vocês depois. Tchau, Cara. - E deu um abraço em Harry. - Tchau, Anjo. - Colocou a mão na minha nuca e deu-me um beijo demorado na bochecha.
- Se você já acabou com a palhaçada, Scott, eu gostaria de falar com a Alice. - Disse Harry, rispidamente.
Scott afastou-se e piscou para mim. Virou-se e foi embora.
- Ele não devia te chamar de Anjo. - Harry estava sério, o maxilar tenso e os braços cruzados, e quando o fazia, os bíceps aumentavam. Suspeitava que ele sabia disso.
- Por quê ?
- Porque você é meu Anjo.
Abri a boca para falar mas fechei-a. Abri novamente e não saiu nada. Falar o quê ? Estava sem palavras com seu tom possessivo. Fui pega de surpresa. E não poderia estar mais ruborizada.
- Tenho uma coisa para você. - Ele disse. Colocou a mão dentro do casaco e tirou uma caixa média rosa. Abri e dentro tinha uma torta de limão.
- Você lembrou ! - Exclamei.
- Achei que ajudaria. - E sorriu, agora, mais calmo.
- Obrigada.
Abracei-o, rodeando seu pescoço com os braços. Ele retribuiu rodeando minha cintura. Como ele cheira bem ! - pensei - Pare já com isso, Alice !
Olhei nervosamente para a porta do escritório.
- Quer que eu entre com você ? - Perguntou, preocupado.
- Você poderia ? - Já começava a sentir-me mais entusiasmada para a conversa.
- A gente entra, e eu vejo com o Connor se eu posso ficar. Mas é melhor eu ficar com a torta, ele já deve estar esperando e você não pode comer lá dentro.
Hesitante, bati na porta do escritório.
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