Irresistible - Desejo Obscuro

Capítulo Dez

 Levou minha mão até seu cabelo e comecei a mexer no mesmo. 

Acordei com a luz do amanhecer. Percebi que não conseguia mover-me muito bem; não por causa de qualquer dormência, e sim, porque algo prendia-me. Forcei-me a sair do torpor do sono e vi que era Harry que prendia-me. Ele estava deitado de lado. O joelho entre minhas pernas; o braço sobre a minha cintura e o resto enfiado na curva do meu pescoço. Deus ! Como conseguimos ficar tão agarrados ? Na hora de dormir só estava com a cabeça em seu peito. Como conseguimos ficar nessa posição ?. Comecei a sentir minhas bochechas esquentarem ao olhar para nós. É melhor levantar antes que Harry acorde e tome consciência de como estamos. Foi um pouco difícil, mas consegui desvencilhar-me.

Indo ao banheiro, não consegui tirar um sorriso bobo do rosto; lembrando de como estávamos agarrados a alguns segundos atrás. Eu não consegui parar, por mais que as palavras " Apenas Amigos " piscassem a minha volta como um aviso.

Voltei ao quarto, depois de um banho tomado e já vestida. Procurei meu celular nas minhas coisas, bolsas, cômoda e não achei. Precisava ligar para o meu tio. Só faltava um lugar. Harry não se desgrudava do celular. Tentei não fazer barulho ou movimentos bruscos para não acordá-lo; ele parecia cansado na noite anterior. Afastei um pouco as cobertas. Tentei alcançar o bolso traseiro. Estava tão imersa na tarefa que não percebi que Harry havia acordado e me observava, até levantar os olhos.

Harry abriu um sorriso brincalhão.

- Não devia ficar apalpando as pessoas assim, Anjo.

Senti minhas bochechas esquentarem e soltei uma risada nervosa.

- Desculpa, não queria acordá-lo, estava tentado pegar meu celular.

Ele sentou e tirou o celular do bolso, entregando-o.

Enquanto conversava, Harry ficou brincado com os meus dedos. Não consegui conter as risadas quando Harry começou a fazer cócegas. Meu tio não estranhou, pois Mellissa já fez isso.

- Tio, tenho que ir - Risadas - Tchau.

Harry arrancou o celular da minha mão e desligou.

Tentei sair da cama antes que ele começasse de novo, mas ele puxou meu pé. Sentou nas minhas costas e começou a fazer cócegas. Não conseguia parar de rir e já estava começando a ficar sem ar. Consegui virar, mas ele não saiu de cima de mim. Eu engasgava com os risos enquanto falava para ele parar e tentava me desvencilhar de suas mãos. Mas ele era muito mais forte e rápido. 

- Para ! - Engasguei com a risada.

- Pede por favor. - Disse em meu ouvido, mas não parou com as cócegas.

Tentei não pensar em como ele era cheiroso e forte ou em como estávamos embolados um no outro. E tudo piorou quando senti seus lábios roçando na minha orelha. Estava tão imersa em sensações que não ouvi as batidas na porta e Mellissa entrando. Foi assim que fomos encontrados; braços e pernas enroscados enquanto ele pressionava seu corpo contra o meu para falar em meu ouvido. Harry saiu de cima de mim quando percebeu a presença de Mellissa. Ela estava com o rosto sério, mas eu percebia a raiva em seus olhos.

- Desculpe, vim ver a Alice. - Ela não aparentava querer realmente pedir desculpas.

Atravessou o quarto e pegou-me pela mão. Arrastou-me até a cozinha, descendo as escadas rapidamente. 

- O que estava acontecendo no quarto !? - Perguntou com rispidez, tentado falar baixo.

- Não estava acontecendo nada. Só estávamos brincando.

- Não vai me dizer que ele nem beijou você ? - Perguntou, irônica.

- Quem beijou a Alice ?

Eu e Mellissa não percebemos quando Harry entrou na cozinha. Vire-me surpresa para ele. Não fez ruídos ou barulhos ao entrar. Vestia a mesma calça de moletom cinza, mas agora estava com uma camiseta branca, meias e os cabelos bagunçados, que indicavam que acabou de acordar.

- Ninguém. - Respondi rapidamente.

Mellissa olhou secamente para ele e disse rispidamente:

- Perdi o apetite.

E saiu da cozinha pisando duro.

Sentei em um dos bancos em frente à bancada. Harry sentou do outro lado.

- Entendo porque ela me trata assim.

Os ombros de Harry estavam mais baixos e ele não parecia feliz como antes.

- Ela não devia ficar assim. Nunca me prometeu nada.

- Não a culpo por tentar afastá-la de mim. - Passou a mão pelo rosto - Eu mesmo tentaria te afastar.

O medo atravessou-me e a tensão instalou-se em meus ombros.

- V-Você quer me afastar ?

Ele tirou a mão do rosto e começou a brincar com os meus dedos.

Deu um suspiro e disse:

- Jamais conseguiria.

Instalou-se um silêncio tenso e constrangedor. Mas eu senti o alívio no peito,

Cinco, seis, sete segundos ...

Ninguém desviava o olhar. Mas eu fui a primeira ao fazê-lo.

- Tem alguma missão hoje ? - Perguntei, tentado preencher o silêncio constrangedor.

- Não, dei-me uma folga.

- É assim ? A vida de Caçadores não parece tão ruim. Ganha bem, tem segurança reforçada em casa e escolhe quando trabalhar..

- Você não se sairia tão bem, é pequena. - E sorriu.

Coloquei a mão no peito fingindo estar ofendida, mas antes que pudesse defender-me o celular dele bipou. Ele tirou do bolso, leu a mensagem e sorriu.

- Já sei o que vamos fazer hoje.

Deu-me o celular e a tela LED acendeu com a mensagem:

" Todo mundo no lago as 12:00.

Os homens levam a cerveja "

(...)

O sol ardia no céu, aquecendo á todos. O gramado se estendia até o lago de água azul escura. Várias pessoas já estavam lá. Algumas tomando sol estendidas sobre a toalha no grande e vasto campo, outras na água e algumas já estavam bebendo. Completei mentalmente o que estava na mensagem: " Os homens levam a cerveja e as mulheres os biquínis minúsculos ". Uma brisa agitou meus cabelos e tive que afagar os braços em busca de calor. Perguntei-me se somente o biquíni e o short seriam suficiente. Mellissa veio conosco e apresou-se a estender uma toalha e deitar. Ela deu espaço e estiquei-me ao seu lado. Mellissa continuava com a carranca, mas eu não a culpava; se fosse ao contrário, eu também iria tentar protegê-la.
- Até quando você vai ficar brava comigo ? - Perguntei.
- Corrigindo: Estou brava com Harry.
- Você sabe que não tem motivos.
- Como não tenho motivos ? - Perguntou incrédula - Ele passa a noite toda do seu lado, dança com você, quase te beija e do nada te larga para ficar se agarrando com outra no quarto onde você também dorme !
- Foi só uma dança, ele nem chegou a me beijar. Nunca me prometeu nada. Eu que fiquei criando ilusões sabendo que ele não era para namorar. Sempre fomos só amigos.
- Você ficou mal, droga ! 
- Foi só um momento de fraqueza. Não me condene.
- Só estou tentando abrir seu olho. Você não tem culpa, mas eu estou querendo te proteger. Você fica perto dele falando de amizade, mas eu te conheço, sente algo.
- Não, não sinto.
Mellissa revirou os olhos.
Por mais que eu insistisse, sabia que não ganharia dela. Mellissa estava certa. Mas eu não me afastaria de Harry. Não sem ele pedir. Ele era uma das minhas bases em meio a todo o turbilhão.
Recostei-me nos cotovelos, deixando o sol aquecer-me. Quando percebi, estava começando a dormir com o barulho da água, do vento agitando às árvores e o sol esquentando a pele como um cobertor de pelo macio.

(...)

Acordei com algo pinicando em meu braço. Pensei que era uma formiga e recusei-me a abrir os olhos; apenas passei a mão. Mas continuou insistente. Passou pela minha barriga e pela minha coxa. Abri os olhos e Harry sorriu para mim. Estava com um pedacinho de grama na mão.
Sentei, ficando de frente para ele.
- Bom dia, Bela Adormecida. Pensei que não fosse mais acordar. - Passou a grama pela minha bochecha - Quase tive que passar no seu pé.
- Poderia levar um chute e não seria culpa minha.
Fez o contorno da minha boca e desceu até o decote do biquíni.
- Mas aí eu teria que te castigar de algum jeito.
Os cantos de sua boca se ergueram em um sorriso malicioso. Quando chegou com a grama no limite do decote, dei um tapa em sua mão e ele riu.

(...)

Às dez da noite, coloquei meu pijama e deitei para dormir. Harry saiu do banho vestindo sua boxer preta e deslizou para dentro das cobertas. Sentia os músculos do corpo doendo, como se tivesse sido pisoteada. É o que acontece quando se passa o dia inteiro nadando. À tarde foi um dos melhores dias desde que entrei no Instituto. Me animou bastante. Depois que Harry acordou-me, fui obrigada a entrar no lago. Na verdade, arrastada. Ele jogou-me nos ombros e carregou-me até a água. Quando olhei para trás, procurando Mellissa, percebi que o lugar em que eu e Harry estávamos estava cercado por diversas de suas admiradoras, que fingiam estar tomando sol e apreciando a paisagem, quando, na verdade, estavam tentando se aproximar e observá-lo; até abordá-lo com uma conversa se tivessem oportunidade. Mas haviam perdido qualquer oportunidade assim que fomos para o lago. E eu senti o peso de seus olhares sobre mim. Nadei, andei de jet sky , bebi, comi besteiras e até joguei vôlei na água. Fizemos um círculo e até Mellissa entrou no jogo. Ela não estava mais brava comigo, mas ainda guardava um pouco de raiva de Harry. Mas parecia feliz. Harry colocou-me em seus ombros, aumentando a vantagem no jogo e nossa vitória. Quando tentei pegar uma bola que passou muito alta pela minha cabeça, acabei escorregando e caindo de costas na água. Ele riu e eu percebi o quanto gostava do som de sua risada; e em vez de ficar ruborizada, ri com ele.
Ajeitei-me na cama e abracei o travesseiro. Harry olhou-me com uma sobrancelha erguida.
- O que ? - Perguntei, curiosa com o que ele estava pensando.
Ele abriu um sorriso de lado e passou os dedos nos lábios.
- Sou bem melhor que o travesseiro.
Dei um tapa se leve em seu braço.
- Vai dormir.
Ele riu e virou-se de costas.