Irresistible - Bêbado

Capítulo Seis

   
Foi difícil, mas consegui levá-lo para o meu quarto

Harry não estava em condições de protestar naquele estado. Ele enganchou o braço no meu pescoço e seguimos cambaleando até deitá-lo na minha cama. Tirei seus sapatos e deslizei a mão por debaixo da sua camiseta para tirá-la. Quando desabotoei sua calça, ele se apoiou nos cotovelos e ficou me observando, com um sorriso malicioso nos lábios. Senti minhas bochechas esquentarem. Deslizei a calça pelas pernas e tirei-a. Ele riu.

- Sonhos se realizam. - Ele disse.

Revirei os olhos. É só o efeito da bebida, fiquei repetindo.

Puxei-o da cama e o levei até o banheiro. Ele não estava com a melhor das expressões enquanto se curvava com a mão na barriga. Eu sabia o que estava por vir. Levantei a tampa do vaso sanitário e ajudei-o a se se curvar. 

Em alguns minutos, ele já havia terminado. Liguei o chuveiro e tentei colocá-lo de baixo da água. Harry protestou quando percebeu que era gelada.

Esperei que o banho deixasse-o mais sóbrio.

- Não quer entrar ? - Perguntou, e um dos cantos de sua boca se ergueu.

Fiz uma careta enquanto procurava uma toalha e escova de dentes.

- Não, obrigada. Tomar banho gelado com um cara bêbado não é muito minha praia. -  Entreguei a escova e ele escovou os dentes.

Achei uma toalha e coloquei ao lado do chuveiro. Peguei um sabonete líquido e entreguei a ele. 

- Você não sabe o que está perdendo. - Ele disse, passando o sabonete no corpo.

- Não estou perdendo nada ... Talvez uma gripe. - Retruquei.

Curvei-me para frente, tentando desligar o chuveiro e ao mesmo tempo esquivar-me da água. Harry pegou-me pelos braços e trouxe-me para perto de si, fazendo a água molhar minha blusa.

- Tem certeza, Anjo ? - Perguntou, em tom de flerte com um sorriso malicioso. Ele me olhava no fundo dos olhos, fazendo-me prender a respiração.

Recuperando-me, afastei-me dele e desliguei o chuveiro. Peguei a toalha e entreguei a ele. Harry só ficou segurando-a e olhando para mim. Perdendo a paciência, tomei a toalha das mãos dele e passei sobre seus ombros.

- É para você se secar. - Falei.

- Não estou em condições de fazer nada. - E sorriu.

- Jura que vai me fazer te secar ? - Só podia ser brincadeira !

Ele fez um biquinho de lado e olhou para cima, como se estivesse pensando. Em outra situação, eu teria achado bonitinho.

- Hm ... Vou !

Bufei e peguei a toalha. Comecei a secar os braços, depois o abdômen e peitoral. Sentia que ele me observava concentrado e tive certeza que um rubor se espalhou pelas minhas bochechas. Não me importei muito, pois sabia que amanhã ele não lembraria de nada.

Agachei-me e sequei suas pernas. Ele riu.

Terminei de secá-lo e levei-o para o quarto.

- Não sente na cama. Sua cueca ainda está molhada. - Falei e caminhei até a porta.

Voltei para o quarto de Harry. Por sorte, não havia mais tantas pessoas o que facilitou para eu conseguir entrar no banheiro e pegar outra cueca.

Quando voltei para o meu quarto, Harry estava curvado sobre a pia do banheiro, escovando os dentes, novamente. Apoie-me no batente e mostrei a cueca preta para ele.

- E não vou te vestir. - Avisei quando ele secou a boca e pegou a peça da minha mão.

Saí do banheiro e fechei a porta, deixando ele se trocar.

Quando Harry saiu, estava vestindo a cueca e os cabelos estavam úmidos.

- Deita na cama. - Pedi.

Ele sorriu e brincou:

- Não vai me levar para jantar antes, Anjo ?

Ri e ele deitou na cama. Peguei a caixa de primeiros socorros e sentei ao lado dele. Tirei o curativo velho da sobrancelha. Comecei a limpar com algodão. Harry me encarava.

- Você tem fios dourados em volta da íris. É muito lindo.

Minhas bochechas esquentaram. Ninguém nunca havia observado isso.

- Sabe, fico lisonjeada, mas você não precisa ficar bêbado só para chamar a minha atenção. - Brinquei, usando o mesmo tom tedioso e confiante que ele usou comigo.

- Ei ! Essa fala é minha, Anjo.- E sorriu.

Terminei o curativo e levantei da cama.

- Vou buscar um café.

Ele puxou-me pela mão, fazendo-me sentar de novo.

- Não preciso. - Ele colocou a alça da blusa, que havia escorregado, no lugar. Deslizando os dedos pela pele desnuda do ombro. - Vamos dormir, Anjo.

- Tem certeza ? Vai ajudar na ressaca.

- Tenho. Posso mesmo dormir aqui ? - Ele me olhou com expectativa.

- Bem, seu quarto está totalmente fora de questão e não há outros lugares. Então, ou você dorme aqui ou no sofá.

Ele levantou o lençol até a altura da cintura e virou-se de lado.

- Estou bem ficando aqui.

Levantei e fui trocar-me no banheiro.

Todo o trabalho que tive com Harry deixou-me com calor, então não me cobri.

Harry virou-se na cama. Pude sentir a respiração dele no meu pescoço. Ele começou a deslizar a mão pela pele desnuda da coxa e foi subindo. Dei um tapa na mão dele. Harry riu e aconchegou-se melhor na cama.

Harry não cheirava mais a bebida. O cheiro de seu perfume, suave e sensual, havia voltado e seu hálito era de menta.

Meus olhos foram ficando mais pesados e o sono me abateu.

Narrador's  POV

Quando Alice acordou, estava virada para o outro lado. Harry estava de barriga para cima, com os braços atrás da nuca. Mas seu rosto estava voltado para Alice. Ele a observava com uma sombra de sorriso nos lábios. Ela ficava tão serena dormindo, que Harry gostaria de ser um pouco assim também. 

- Está acordado a muito tempo ? - Alice perguntou,
Sentou-se na cama, afastando-se.

- Não muito.

- Melhorou ?

Ele de fato havia melhorado. Ela cuidara dele o tempo todo.

- Sim. Só com um pouco de dor de cabeça.

Alice levantou e se espreguiçou.

Ela pode ter uma visão melhor de Harry. Os braços atrás da nuca davam-lhe um ar relaxado, mas os olhos ainda estavam um pouco vermelhos. O lençol estava abaixo da cintura, mostrando a barrinha da cueca e as várias tatuagens no abdômen, peitoral e braços.

Pegou roupas e toalha no armário, mas deixou que Harry fosse tomar banho primeiro.

 - Vamos ver a situação do seu quarto ? - Ela perguntou, quando saiu pronta do banheiro.

-  Se não estiver com uma fita de isolação em volta.

Alice riu e abriu a porta para passarem.

O quarto de Harry cheirava a álcool e sexo. As bebidas em cima da mesa estavam vazias e caídas, havia copos e cacos de vidro no chão, algumas caixas de música estavam tombadas e havia marcas pretas de sapato na cama.

- Vai levar um tempo para limpar isso. - Alice avisou.

- Eu sei quem vai limpar. E não sou eu.

- Quem irá se candidatar ? E não olhe para mim.

- Tem uns caras me devendo alguns favores. - ele esfregou uma palma da mão na outra - Hora de cobrar.

Alice ficou esperando Harry ir cobrar os favores. Ele voltou com mais quatros homens.

- Hora de trabalhar, garotos. - ele voltou seu olhar para Alice - Vamos comer, Anjo.

- Espero nunca dever nada a você. - Disse Alice, sorrindo.

Ele riu e caminharam até a cozinha.

Como ela não estava com fome, foi sentar no sofá da sala. Harry voltou com uma tigela cheia de frutas picadas. Sentou-se na beirada da mesa de centro.

- Preciso ligar para o meu tio. Ele deve estar pirando ! - Pediu ela.

Harry comeu um pedaço de morango picado e entregou o celular para ela.

Ela discou o número do tio.

- Alô ? Alice ? - Atendeu o tio, com a voz cheia de preocupação.

- Oi, tio.

- Meu Deus ! O que aconteceu ? Você parou de me ligar e não retornava as ligações. Fiquei muito preocupado ! Pensei que tinha acontecido algo. Até comprei uma passagem de volta para casa.

Alice previu que o tio começaria a dar um sermão. Com tudo acontecendo, ela resolveu pedir logo as desculpas e impedir o tio de começar a falar por um longo tempo, sobre o quanto era importante ligar, responsabilidade, das regras, o quanto deixou-o preocupado ...

- Me desculpe ! Estava super ocupada. Mellissa brigou com o namorado e agora vive triste e grudada em mim, é época de provas e tenho vários trabalhos para fazer. Acabei esquecendo de ligar. Me desculpe.

- Poxa Alice ! Me deixou super preocupado.

- Eu sei e sinto-me péssima. Não precisa voltar para casa só por causa disso. Não quero atrapalhar seu trabalho. Você me perdoa ?

Ele soltou um ar pesado.

- Tudo bem. Mas não deixe de ligar. Por favor, quero notícias. - Sua voz amoleceu um pouco, ganhando um tom de cansaço.

- Obrigada. Eu ligarei. Te amo, tio.

- Também te amo. Tchau.

Desligou o telefone.

- Tudo bem ? - Harry perguntou.

Durante a conversa, ele parara de comer e começou a observá-la. Alice sabia que o truque sobre a escola iria dar certo. Seu tio prezava muito por sua educação e seria mais flexível se acreditasse que ela estava se dedicando.

 - Tudo. Já resolvi.

Ela fez um esforço para manter um tom natural, mas havia um resquício de tristeza. Nunca gostara de mentir. E ficou muito pior ter que fazer isso com tio. Ver ele sofrer por sua causa e ainda ter que mentir, deixava-a péssima.

Aproveitou que estava com o celular e ligou para Mellissa.

- Oi, danadinha. - Atendeu Mellissa, com um tom malicioso.

Alice revirou os olhos.

- Oi, Mel.

- Ok, me segurei tempo demais ... conta tudo sobre o carinha.

- Não tem nenhum cara. - Alice olhou para Harry e viu que ele estava achando graça.

- Ah, tá bom ! E aquele que atendeu o telefone já passou, então ?

- Não era ninguém importante, Mel. - Desta vez, Alice não sustentou o olhar de Harry.

- É sem compromisso ?! Quem é você e o que fez com a minha Alice ?

- Mel ! Por favor.

Mellissa riu.

- Ok, ok. Mudando de assunto ... estou com saudades, baby.

- Eu também. Você faz muita falta.

- Em que droga de lugar você está ?! Não aparece à dois dias. O cara é tom bom que você não vai mais voltar ?

Alice inventou uma desculpa.

- Tenho más notícias. Meu tio me colocou em um acampamento de verão. Disse que seria melhor, já que essa última viagem era longa. Ficaria mais segura. Não posso sair, Mel.

Mellissa ficou em silêncio antes de elevar o tom de voz.

- O que ? Como ele pôde fazer isso ? E eu ? As aulas ainda não acabaram.

- Você sabe que eu estava adiantada na matéria. Só falta uma semana antes do fim do ano. 

- Não sei como vou ficar sem você. A gente sempre passa as férias juntas. Já é uma tradição ! E nossos encontros ?

- Sinto muito, Mel.

- Quanto tempo vai ficar aí ?

- Provavelmente bastante.

- Droga ! Por que seu tio fez isso ? Ele vai se ver comigo.

- Tenho que desligar, Mel. Sentirei saudades.

- Também, baby.

Antes que desabasse, Alice desligou. Tentou se segurar, mas havia um nó na garganta. Fechou os olhos e sentiu uma lágrima escorrer pela bochecha. Respirou fundo.

Vendo aquela cena, Harry sentiu por Alice. Mas ele espremeu o sentimento até o fim. Ele não pode sentir essas coisas. 

Agora, Alice estava pior ainda. Mentiu para as duas pessoas que mais ama. As únicas que tem. E ainda teria que ficar afastada. Talvez até por muito tempo. Harry colocou a tigela de lado e sentou na ponta do sofá, colocando as pernas de Alice por cima das suas. 

Ele fechou os olhos por alguns segundos e disse:

- Provavelmente vou me arrepender de fazer isso, mas você pode trazer a Mellissa.

Alice levou alguns segundos para amenizar a surpresa. Quase não acreditou no que ouviu.

Levantou do sofá e estreitou os olhos.

- É sério ? - Ela perguntou, desconfiada.

Ele também se levantou e sorriu.

- É. De nada.

Alice abriu um sorriso de orelha a orelha. E sem pensar, atirou-se nos braços dele. Harry hesitou no começo, surpreso com sua atitude, mas logo rendeu-se o rodeou sua cintura com os braços.

- Obrigada, obrigada. Muito obrigada.

Ele afastou-se um pouco e disse.

- Agora é sério. - Alice mordeu os lábios tentando conter o sorriso, e Harry riu de sua tentativa frustrada - Você vai me prometer que só virá Mellissa, nada de namorados. Ela não pode saber de nada ... Instituto, os perigos que você corre, nada. Aqui é um acampamento de férias. Sem Caçadores e missões. Entendeu ?

- Sim, sim. Ficarei te devendo um favor.

Ele sorriu de lado e disse:

- Pode deixar, eu vou cobrar.

Alice não ligou para a provocação , estava muito feliz.

- Para agradecer, vou te fazer tacos.

Ela foi até a cozinha e ele a seguiu. Sentou-se no balcão e ficou observando-a. Ela começou a pegar os ingredientes. 

Logo, Harry já estava terminando de comer o último. Sem conseguir se conter, Alice pediu para ligar para Mellissa e Harry assentiu.

Ela não poderia ter ficado mais feliz. Mellissa entendeu as condições - um tempo só para as meninas - e fez vários planos para as duas. Sua vida poderia ter virado de cabeça para baixo estando em perigo, mentindo, se afastado das pessoas que ama, mudado ... mas Mellissa conseguia tornar tudo melhor. Conseguia trazer um conforto. E era o que ela estava precisando nos últimos tempos.

 À noite, Harry ligou para alguns amigos para ver se eles já estavam chegando com Mellissa. Felizmente, ela estava bem próxima. Assim que chegaram, Harry e Alice foram até a sala. No meio do caminho, ela lembrou-se e parou abruptamente na frente de Harry.

- Opa ! Calma aí - ele disse, quando se chocaram. - Sabe, não estou dizendo " não ", mas não acho legal a gente começar a dar uns amassos aqui em cima quando sua amiga está esperando. - Disse brincando, e sorriu.

- Idiota. Eu só queria lembrar que as outras pessoas podem falar algo para Mellissa.

- Já cuidei de tudo.

- Uma última pergunta: Como você conseguiu ? Como ela pode ficar aqui ?

Ele se aproximou e disse:

- Vou te contar um segredo: muitas pessoas me devem favores. - ele sorriu de lado e continuou - Até você. 

- Eu sei disso.

- E não esquecerei de cobrar.
Alice começou a andar novamente e disse :

- Eu imaginei.

Eles desceram até a sala. Mellissa estava esperando com duas malas e alguns caras ao redor. Alice correu e abraçou a amiga. A saudade se dissolveu dando lugar á alegria. Era tão bom ver Mellissa novamente. Alice fastou-se um pouco.

- Que cara de sono. - Alice disse.

- Estava cansada. Dormi a viagem inteira. 

Alice desconfiou de algo. Mellissa não consegui dormir quando estava ansiosa. E ela trasbordava de ansiedade pelo telefone. Mas Alice já sabia o que tinha acontecido. Mellissa tinha sido drogada.

- Aposto que sim. - E lançou um olhar para Harry. - Vamos ver um quarto para você.

Mellissa foi na frente, dando a chance de Alice ficar atrás com Harry.

- Você tem que parar de drogar as pessoas. - sussurrou Alice, em tom de bronca, para Harry.

- Mas desta vez não fui eu. - Ele sussurrou de volta, no ouvido dela.

- Mas foi você que me drogou. Duas vezes.

- E tenho que admitir que você fica mais legal dormindo.